1980 foi o ano que o Heavy Metal britânico se armou de todas as espadas e machados da Torre de Londres e partiu para cima dos punks de cabelo laranja e dos roqueiros psicodélicos de calça boca de sino dos anos 1970. Os hippies e os posers estavam fora e Margaret Thatcher era o próximo alvo. Cartazes enormes dos shows de headbangers e do lançamento de álbuns apareciam quase todos os dias nas ruas de Londres, cobrindo os pergaminhos reais esfarrapados que alertavam o público sobre Jack, o Estripador, a Peste Negra e os Beatles. Em alguns meses, esta armada encouraçada de discos abriu o caminho para o metal da década de 1980: o notório Ace of Spades do Motörhead, o triunfante Wheels Os Steel do Saxon, o inocente On Through the Night do Def Leppard, o British Steel, marco do Judas Priest e o horripilante esforço introdutório do Iron Maiden.
Sozinho em meio a essa estimada turma de 1980, o Iron Maiden estabeleceu uma conexão com a névoa inglesa, os paralelepípedos e os impulsos de medo provocados pela nova atração turística London Dungeon, assombrada por fantasmas de séculos de monarquia e algumas décadas de filmes de terror da Hammer. No mundo real, assassinos em série, homens-bomba e déspotas genocidas tinham aterrorizado alegremente a população nos anos anteriores, e o cérebro do Iron Maiden, Steve Harris, tramou o seu contra-ataque com um conjunto voraz de músicas sobre pisos ensanguentados, prostitutas malditas, pervertidos empunhando facas, planetas alienígenas deletérios, vampiros e olhos que tudo veem, com o poder de destruir mentes. O Kiss e o Alice Cooper já haviam usado maquiagem e tocavam músicas relativamente normais, no estilo shock rock. O Iron Maiden pode ter lançado mão de glamourosas calças listradas logo no início, mas a música deles - e o macabro mascote Eddie - era realmente muito assustadora.
No começo, o Iron Maiden cheirava a histórias em quadrinhos e Edgar Allan Poe, mas a música era muito mais devastadora. O ataque constante e agressivo era a principal modalidade musical, e Paul Di'Anno, o Casanova encrenqueiro, impôs a lei do metal com autoridade e seu vocal rouco. O baixo de Steve Harris era mixado para soar de forma quase educativa, mas ele tinha pouco a temer da parte de seus contemporâneos monótonos, uma vez que eram raras as bandas da época que baseavam suas músicas de oito minutos em linhas de baixo. A assombrosa dupla de guitarristas Dave Murray e Dennis Stratton realmente definia o som arrepiante, porém, dedilhado quiálteras velozmente em uníssono, decorando cada floreio com ainda mais floreios e conseguindo extrair com esforço mais um momento assustador a partir das mudanças de andamento. O baterista Clive Burr era um headbanger que não vacilava - seu desempenho arrebatador na canção tema da banda, "Iron Maiden", foi o mais longe que o Heavy Metal chegou então no que diz respeito à velocidade no uso das baquetas. E estamos falando de novatos. Foi com "Phantom of the Opera" que o Iron também escreveu uma obra-prima moderna, um marco tão assombroso quanto a música "Black Sabbath", de dez anos antes.
O mistério e a criatividade alquímica do Iron Maiden são tão densos e pesados quanto uma torta de carne tipicamente inglesa. Vestidos com babados e listras, o Iron Maiden bateu ponto em pubs durante anos, e músicas simples de se cantar junto, como "Running Free", eram de fácil apelo à classe trabalhadora e aos fãs obstinados do gênero musical. No entanto, o material do início da banda se voltou para músicas introspectivas como "Remember Tomorrow" e "Strange World". Harris sabia que o público poderia ser satisfeito de uma forma simples, mas mesmo assim ele estabeleceu padrões impossíveis, que forçaram a geração seguinte de bandas de metal a mudar regras para poder competir. É difícil imaginar as transformações sobrenaturais que aconteceram, uma a uma, com os primeiros headbangers que se entupiam em casas de rock de Londres, espaços minúsculos lotados de máquinas de fumaça e com o máximo de luzes que o disjuntor podia aguentar. Pensando nos últimos tons sobrenaturais da música que fecha o álbum, "Iron Maiden", todas as portas com certeza estavam abertas para que a banda pudesse ir a qualquer lugar. Até hoje, tocando para mais pessoas a cada ano, um público maior do que a população que vive na grande Londres, eles ainda carregam consigo quase todas essas músicas aonde quer que vão.
*Publicado originalmente em "Iron Maiden: The Ultimate Unauthorized History Of The Beast"