O que acontece quando um superfã da Donzela,
Frank Turner, encontra seu herói
Bruce Dickinson? O que quebra o gelo entre Frank Turner e o vocalista do Iron Maiden Bruce Dickinson não é a grande tatuagem do mascote morto-vivo do Iron Maiden gravada para sempre na parte de trás da panturrilha de Turner. Também não é a notícia de que Turner ganhou uma rodada do programa Celebrity Mastermind com o Iron Maiden como sua área de especialidade. Não é nem mesmo a confissão de Turner de que ele fez um desejo, enquanto cortava o bolo em seu aniversário de 12 anos em 1993, para que Dickinson um dia se juntasse novamente à banda, e ele sente-se pessoalmente responsável pela volta de Dickinson. Não, o que realmente quebra o gelo é o fato de que ambos produziram sua própria marca de cerveja.
"Brilhante!" Dickinson se entusiasma, no backstage do festival Copenhell de Copenhague, em shorts pretos, capuz e chapéu de lã. "Você tem alguma?" Não que ele possa beber hoje - ele tem de pilotar um avião mais tarde [em um show aéreo]. Por mais de 30 anos, Dickinson oscilava à beira do abismo do ridículo no rock'n'roll. Quando não estava à frente do espetáculo de horror barato com fogo e animatronic que é um show do Iron Maiden, ele gastava algum tempo como piloto comercial, esgrimista internacional, apresentador de TV e hoje também como participante de uma reencenação de um duelo aéreo da primeira guerra mundial que ele está trazendo para o festival Sonisphere em Knebworth.
Turner - um fanático por Iron Maiden - veio dos EUA para conhecer e entrevistar Dickinson antes de sua participação no Sonisphere, e ele está se sentindo um pouco nervoso. "Eles foram a primeira banda de rock pela qual eu me apaixonei", explica ele.
"Eu era uma criança, a música não era uma parte da minha vida e então eu ouvi Iron Maiden e tudo mudou. Meu pai me comprou uma cópia do Killers em K7 no supermercado da estação de Waterloo, a caminho do trabalho para casa, e ele realmente deve acreditar que esse foi seu maior erro como pai, porque tudo na minha vida mudou quando eu ouvi esse álbum. Acho que eles são, sem dúvida, um dos, senão o melhor show ao vivo no mundo. Eles fizeram 15 álbuns de estúdio e daqueles eu diria que pelo menos 10 são clássicos indiscutíveis, o que é uma taxa de acerto bastante incrível para qualquer banda."
Frank Turner: Eu queria começar falando sobre o seu legado e a sua imagem. Vocês estão à beira de vender 60 milhões de álbuns no mundo todo. Comparando, Elvis Costello vendeu 12 milhões de álbuns. Sou um grande fã de Elvis Costello, mas em termos de percepção do público, e principalmente na percepção da mídia, algumas pessoas o levam mais a sério. Isso faz diferença para o Iron Maiden?
Bruce Dickinson: Basicamente, não, não nos importamos. Fazendo uma analogia com uma fazenda, nós temos o nosso campo, e nós temos de ará-lo. O que acontece no campo de nosso vizinho não é nosso problema. Só podemos arar um campo de cada vez. Não temos vergonha de ser uma banda de nicho. Felizmente o nosso nicho é bastante grande.
Frank Turner: Há algo esnobe acontecendo. O metal para algumas pessoas é considerada uma forma de arte menor, mas eu acho que a única forma de julgar o impacto cultural é pela quantidade de pessoas que seguem o estilo.
Bruce Dickinson: O mais próximo que o "establishment da arte" chegou de adotar o metal foi com o punk. O motivo de terem abraçado o punk é que o punk era tosco, e sendo tosco, eles podiam manter o controle. Eles podiam dizer: "Oh sim, somos punks e podemos zombar de todo mundo. Nós não conseguimos tocar nossos instrumentos, mas podemos dizer que isso tudo é uma enorme manifestação artística." Boa parte dos garotos que estavam nas bandas punk riam da arte estabelecida: "Que bando de idiotas. Obrigado, nos deem dinheiro e nós vamos cheirar tudo." mas o que eles realmente adorariam fazer era estar em uma banda de heavy metal cercados de porn stars.
Frank Turner: Não vi nenhuma porn star por aqui.
Bruce Dickinson: Eu estou com 56 anos. Talvez minha época já passou.
Frank Turner: Uma das coisas que gosto do Maiden é que é música despretensiosa, enérgica, agressiva, para pessoas que não ligam para a moda e tendências.
Bruce Dickinson: Toda esta porcaria [de moda e tendências] não existia nos anos 60 e 70. Havia música e era isso. Não era crime ter um álbum do ZZ Top ao lado de um álbum do Motorhead ao lado de um álbum de Simon & Garfunkel ao lado de qualquer outra coisa. Ninguém dizia que era esquisito. Então quando as revistas e estações de rádio proliferaram e começaram a competir, elas começaram a segmentar suas audiências para conseguir vender mais. Quando isso ocorreu as bandas também começaram a imitar a midia. Bandas começaram a fazer música pensando "Vou fazer isso porque é o tipo de coisa que a Radio 1 vai tocar, vou fazer aquilo porque é o tipo de coisa que os jornalistas gostam." E é tudo merda.
Frank Turner: O Maiden ainda tem alguma coisa a realizar?
Bruce Dickinson: Eu não canso dos momentos de imensa atenção que recebemos. As pessoas dizem: "Como é cantar para 250 mil pessoas?" Eu respondo: "Eu não sei, porque estou muito ocupado para prestar atenção." Você não tem tempo para algo como: "Deixa eu esquecer da música, parar a atuação, e prestar atenção a todas estas pessoas que estão olhando para mim … OK, muito obrigado!" Eu vejo estes cuzões em lugares como Glastonbury se apresentando como se tivessem um espelho os acompanhando, fazendo pose e não prestando atenção para os garotos na primeira fila.
Frank Turner: Que ganham um salário mínimo e economizaram para comprar um ingresso.
Bruce Dickinson: Não em Glastonbury. Eles vivem no ar condicionado e provavelmente trabalham para a BBC. Mas olhe eles no olho, sabe? Podíamos ser obcecados por nós mesmos, mas somos obcecados pelo público. É o que faz a diferença entre o Maiden e os outros. Não estou interessado em ser famoso. A fama é o excremento da criatividade, a merda que sobra no final, o subproduto. Muitos pensam que isso é o principal. Para mim, o que importa é a criatividade e o público estar lá no momento.
Frank Turner: Eu nunca entendi a coisa dos super-egos no rock'n'roll. Ser um performer e estar no palco todos os dias é uma oportunidade de virar um idiota, seja propositalmente ou sem-querer.
Bruce Dickinson: Aos 17 ou 18, cheio de testosterona, você não sabe ficar longe dos problemas. Então quando algo errado ocorre no palco a resposta é raiva, ou descontar no equipamento. E você descobre que estas coisas inanimadas te machucam de volta quando você bate nelas. No Rock in Rio, da primeira vez que tocamos lá, em 85, eu estava tocando esta ótima guitarra e o retorno não estava como eu queria. Eram apenas 500.000 pessoas no maior concerto de rock da história, três dias de loucura por lá, tipo Beatlemania, e eu subi no palco e pensei "Diabos, que som de merda!" Eu corri para o técnico da mesa de som e gritei "O retorno está uma merda seu cuzão!" E eu quebrei a guitarra no meio em cima de sua mesa, para provar o que eu estava dizendo, o que não ajudou em nada. Eu destrui uma guitarra que estava perfeita e o som continuou uma merda. Então eu fui para a frente do palco em frente a 500.000 pessoas e chutei as caixas de retorno de cima do palco, então eu não tinha mais nenhum retorno. Pior do que retorno ruim é não ter retorno. Mas fizemos o show e aparentemente foi um clássico. Você faz isso quando tem 18, 21, 22, mas em certo ponto você percebe que está se achando importante demais. "Eu sou tão importante?"
Frank Turner: Sua voz mudou com o tempo?
Bruce Dickinson: Sim. O timbre mudou. Porque a sua forma corporal muda. À medida que você envelhece a sua voz fica mais pesada, mais gorda. Mas com o Maiden, é apenas um vocalista, não tem ninguém escondido atrás dos amps, como fazem outros caras que eu não devo citar. E eu nem uso teleprompter [com as letras]. Eu não perdoo que alguém use teleprompters. Que porra é essa? As pessoas estão pagando uma fortuna e você nem mesmo decora as letras? O pior que já vi foi Breaking the Law [do Judas Priest]. Numa porra de teleprompter. "Breaking the law, breaking the law / Breaking the law, breaking the law / Breaking the law, breaking the law / Breaking the law". O que? É ridículo.
Tradução: Whiplash.Net
Confira a entrevista completa: The Guardian