2003 - DANCE OF DEATH
Por: Ricardo Heavyrick (História e Caos)
Em 2003 Lula assume como presidente do Brasil pela primeira vez, após vencer José Serra nas eleições. Em dezembro era lançado o terceiro filme da trilogia do Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Morrem Roberto Marinho e a ovelha Dolly. Pobre Dolly...
O Kamelot lança Epica; o Epica lança The Phantom Agony; Dimmu Borgir lança Death Cult Armageddon; Dream Theater lança Train of Thought.
WILDEST DREAMS fala sobre reorganizar a vida, deixar o passado para trás e realizar os sonhos mais selvagens.
RAINMAKER não fala sobre filme ou livro algum, fala novamente sobre a vida, faz uma metáfora com a chuva que cai no deserto que rapidamente faz com que as plantas cresçam, mudando o estado do local em pouco tempo. Só não se sabe quem é o personagem que é capaz de "fazer chuva".
Rainmaking (fazer chuva) é um ritual adotado por alguns povos para invocar a chuva. Os mais conhecidos são os índios do sudoeste dos EUA (Novo México, Arizona).
Nas épocas secas (por volta de agosto), homens e mulheres se reúnem para a dança. Eles colocam uma roupa especial, adereços na cabeça e joias como a turquesa (que representa a chuva) só para este momento. A dança é tipo um ziguezague em direção circular.
Neste vídeo há o registro de um festival com a demonstração da dança da chuva, caso um dia queiram (ou precisem) invocar a chuva. /o/ /o/
Em NO MORE LIES Steve Harris novamente fala sobre a possibilidade da vida após a morte. Neste álbum do Maiden, no encarte, há uma descrição sobre cada faixa, com citações dos próprios membros da banda. Vou traduzir o que o Harris fala desta música:
"Pensar sobre a morte é algo que passa pela cabeça de todo mundo em algum ponto da vida. Eu acho que a ideia do que vem depois (da vida), quer você creia em vida pós morte ou não, nos traz muitas ideias e emoções diferentes. Algumas pessoas admitem ficar com medo da ideia de morrerem, enquanto outras não se incomodam. É que nem ter medo do escuro, é algo que muitas pessoas relatam, mas nunca admitem, e provavelmente este seja o porquê de ser uma música tão popular. As pessoas assustadas e intrigadas pelo desconhecido e isto é algo muito forte. Novamente, talvez é só algo que está mais na minha cabeça do que na dos outros".
MONTSÉGUR é resultado do inspirado Bruce após uma viagem ao sul da França, onde ficou sabendo das histórias sobre o lugar e colocou neste som. Montségur fica apenas alguns quilômetros da Espanha e quase 800 Km de Paris (Google maps) e pelas fotos que vi, é um lugar realmente bonito!
Apesar do nome da música, ela trata sobre os cátaros, povo que viveu no Sul da França (Languedoc) nos séculos X e XI. Eram nada mais, nada menos que cristãos que pensavam diferente da igreja católica, a quem eles chamavam de "A Igreja dos Lobos", e tinham crenças diferentes dela.
Eles eram divididos em credenti (crentes) que era a maioria da população, e os perfecti (perfeitos) que eram os líderes (homens e mulheres, quase que igualmente, vejam só). Chamavam-se a si mesmos de bons hommes e bonnes femmes (bons homens e boas mulheres). Eles falavam provençal e não francês.
Acreditavam que tudo aquilo que era espírito, era divino, feito por deus, e tudo aquilo que era matéria, mundano, era escuridão, feito por um deus mundano, que podia se associar com satã. Acreditavam que no mundo da matéria existem centelhas divinas, e estas tem de ser encontradas pelos seres humanos para que estes se libertem. Para tanto, o ser humano precisa se distanciar o quanto puder da vida mundana para não se contaminar e dificultar sua busca, algo não muito longe do Budismo, se você parar para comparar.
O catarismo cresceu rapidamente e a região ocupada por eles ficava entre Paris e a Espanha. Isso não interessava o reinado francês nem o Vaticano. Com a chegada do papa Inocêncio III, e, 1198, a igreja começou a tentar a conversão dos hereges. Ele suspendeu bispos no sul da França, até que em 1208, um nobre de Toulouse é excomungado por Pierre de Castelnau que é assassinado em seguida.
Os cátaros deram o que o papa queria: um motivo para varrê-los da face da Terra. No ano seguinte foi ordenada uma cruzada na cidade de Bézier, onde 7 mil pessoas são mortas. A caça aos cátaros continuou, até que em 1244, 200 cátaros são queimados vivos em seu último local de resistência, a fortaleza de Montségur.
A estes cátaros perfeitos, foi oferecido que eles se entregassem, pedissem perdão por seus pecados e se convertessem, mas eles recusaram a oferta em nome daquilo que acreditavam, sendo assim foram queimados. A chacina de Languedoc foi o primeiro capítulo da inquisição.
"Death is the price for your soul's liberty
To stand with the cathars and to die and be free"
Bruce aqui transforma os cátaros em um símbolo de resistência a um sistema opressor. De Montségur para o inferno, MUAHAHAHA!!!
DANCE OF DEATH é a próxima faixa, e é inspirada no filme de 1958, The Seventh Seal, do sueco Ingmar Bergman (1918 - 2007). O filme fala sobre um homem que joga xadrez com a morte durante a época da peste negra (black death) na Europa (1347 - 1352 DC).
O quadro Dance of Death aparece sendo pintado quando o personagem principal entra na igreja e no fim do filme, uma cena de artistas que fugiram da morte retrata a dança da morte (Danse Macabre). O quadro é uma alegoria sobre a universalidade da morte. Não importa qual nosso estado atual na vida (ou o que estamos fazendo, tipo, dançando), a morte nos une.
The Dance of Death (1493) de Michael Wolgemut
Morreram mais de 25 milhões de pessoas de peste na Europa naquela época. Apesar que alguns estudos apontam que esse número seria bem maior, chegando a 75 milhões de mortos Oo! Fucking rats!
GATES OF TOMORROW fala sobre... hmmm... complicado dizer sobre o que ela fala. No encarte do álbum, a banda se reserva o direito de não falar sobre o que se trata a música, deixando para os fãs essa tarefa. Há quem diga que ele fala sobre a internet ("Trapped in the web"), há quem diga que fala sobre religião ("There isn't a god to save you if you don't save yourself"). Explicitamente a faixa fala sobre estar preso nos fios e cortá-los para mostrar-lhe os portões do amanhã.
O Iron Maiden Commentary lembrou muito bem das Parcas (ou Moiras), que pertencem a mitologia grega, e eu adiciono a lista, as Nornas, da mitologia nórdica.
As Moiras de Strudwick (1885)
Na mitologia nórdica temos as Norns (Nornas, aportuguesado) são responsáveis pelo destino de todos os seres vivos, inclusive os deuses e gigantes. Urdr que é quem olha pelo passado, Verdandi é quem olha pelo presente e Skuld o futuro, elas ficam sob a árvore de Yggdrasil.
Novamente temos diferentes mitologias que de um modo bem parecido tratam de como acham que o destino funciona.
NEW FRONTIER fala sobre uma preocupação de Nicko: Clonagem. Para ele é errado o ser humano brincar de deus "Playing god without mercy without fear", e só deus teria o direito de criar um ser humano porque só ele consegue nos dar uma alma.
A clonagem é um processo de reprodução assexuada, ou seja, sem troca de gametas, onde se tem a produção de indivíduos geneticamente iguais a partir de uma célula-mãe.
Lembra que lá no começo do post eu disse que a Dolly morreu em 2003? Isso provavelmente fez Nicko levantar a discussão sobre o assunto nesta música.
Dolly (1996 - 2003) foi o primeiro mamífero clonado com sucesso a partir de uma célula adulta. Uma ovelha da raça dela vive cerca de 12 anos, existem algumas discussões em torno da morte dela devido ela ter morrido com apenas 6 anos. Só que não há certeza se é devido ela ser um clone, ou por uma doença qualquer que afete ovelhas da raça dela.
Frankenstein também é citado neste som, não tem a ver com clonagem, mas tem a ver com um ser humano dar vida a outro. Esta obra de terror gótico foi criada pela escritora inglesa Mary Shelley (1797 - 1851), originalmente com o título: Frankenstein; or, the modern Prometheus (1818).
Normalmente quando lemos este nome, a imagem do monstro nos vem a cabeça, mas na realidade, no conto de Shelley, Frankenstein é o segundo nome de Victor. Uma das cenas mais épicas do cinema é quando Victor da vida ao monstro e clama: IT'S ALIVE!!!! [Vídeo].
PASCHENDALE, antes de continuarem a apreciar este post, eu os convido a lerem este texto que achei no blog Minuto HM que faz uma excelente explicação do que se trata esta música e a batalha. Eu sinceramente perdi a vontade de continuar a escrever depois de ler o texto do cara. Sério, leiam o texto do cara, ficou muito bem explicado.
MINUTO HM: DESVENDANDO PASCHENDALE
Vamos voltar para julho de 1917, Primeira Grande Guerra (1914-1918), que ano que vem completará 100 anos, para a Batalha de Paschendaele (ou Terceira batalha de Ypres), em Flandres, Bélgica.
Paschendale é um lugar alto, e uma vez que os aliados, Inglaterra, França, Rússia mais o apoio dos canadenses, neozelandeses e australianos, ganhassem esta posição, ficaria mais fácil chegar ao Mar do Norte, onde estavam os submarinos alemães, que estavam dando muito trabalho para os ingleses e irlandeses. Os aliados tinham perdido quase todo o terreno belga para os alemães, ficando apenas com os arredores de Ypres.
Os aliados foram conduzidos por sir Douglas Haig, que simplesmente ignorou o fato de Flandres ser um lugar que chove muito no outono, caem muitos raios, além das condições do solo que era arenoso. Com isso, na época da guerra, os soldados além de lutarem contra o inimigo, lutaram contra a chuva, os raios e a lama, que chegavam nos joelhos ou ainda na cintura! Em alguns pontos, havia lagos, e claro, muitos morreram afogados. Os alemães usaram gás mostarda nessa batalha também!
Esta batalha é considerada um dos maiores desastres militares uma vez que mais de 500.000 mil soldados morreram. No fim os canadenses desobedeceram Haig, e esperaram a chuva passar, para enfim, tomar a vila. Haig argumentou que manteve sua estratégia devido ao abandono dos russos e a baixa moral dos franceses, que ele acreditava que podiam ter saído da guerra a qualquer momento.
Essa animação em flash resume (muito) bem a batalha, só que está em inglês. Você encontra no Youtube também 10 capítulos da BBC falando sobre a Primeira Guerra Mundial.
FACE IN THE SAND fala sobre a inércia da massa de pessoas do mundo esperando que as coisas se resolvam sozinhas, vendo os desastres acontecendo e não fazendo nada para que eles parem.
AGE OF THE INNOCENCE é um protesto contra o governo britânico no que diz respeito a criminalidade. É o mesmo tipo de reclamação que temos aqui no Brasil: os governantes não cumprem suas promessas, o sistema judiciário é pífio (ineficiente, ineficaz e injusto), os bandidos sabem que nada (ou pouco) lhes acontecerá se forem pegos, que não estamos seguros nem em nossas casas e que os bandidos tem mais direitos que as pessoas "normais". Ou seja, o problema não é só aqui ou nos EUA.
JOURNEYMAN é uma das mais bonitas músicas da banda, mas só fala sobre as reflexões de um cara em sua jornada pela vida.
E falando em jornada... esta jornada está quase acabando. Compartilhem, curtam, comentem e até o próximo post. o/
TRACKLIST DANCE OF DEATH - 2003
1. WILDEST DREAMS
2. RAINMAKER
3. NO MORE LIES
4. MONTSÉGUR
5. DANCE OF DEATH
6. GATES OF TOMORROW
7. NEW FRONTIER
8. PASCHENDALE
9. FACE IN THE SAND
10. AGE OF INNOCENCE
11. JOURNEYMAN
FORMAÇÃO
BRUCE DICKINSON - Vocalista
STEVE HARRIS - Baixo
DAVE MURRAY - Guitarra
ADRIAN SMITH - Guitarra
JANICK GERS - Guitarra
NICKO MCBRAIN - Bateria
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