Sophie Griffiths do site Travel Trade Gazette conduziu uma entrevista com o vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson, que falou sobre aviação e viagens em geral.
O piloto de meia idade com camisa de rúgbi da seleção da Inglaterra e boné sentado à minha frente em uma cafeteria no aeroporto de Gatwick, não é exatamente como eu imaginava um cantor de uma banda de rock conhecida mundialmente.
A bandana e o cabelo longo se foram, e em seu lugar está um homem tão confortável discutindo ATOLs* quanto quando está cantando no palco em frente a milhares de pessoas.
(Nota do tradutor: ATOL, sigla em inglês para Air Travel Organizer’s Licence, é um esquema financeiro que protege os passageiros de avião no Reino Unido. Companhias aéreas e operadoras de turismo têm que obedecer aos requisitos da autoridade de aviação civil britânica para poderem vender vôos e pacotes legalmente. O objetivo é fornecer reembolso aos viajantes afetados por qualquer evento que faça com que a companhia aérea não possa fornecer a viagem e providenciar vôos de volta para os que estiverem no exterior no momento do evento (falência, por exemplo).)
Como vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson liderou shows ao redor do mundo por mais de 20 anos. Mas essa semana ele estará em outro palco, como palestrante principal na conferência Advantage Conferenceem Malta, discutindo os problemas que afetam a indústria de aviação - um assunto que é muito importante para ele.
Bruce queria ser piloto desde os 5 anos de idade (até que a "fascinação pelas guitarras tomou conta”) e pilotou vários tipos de aeronaves para várias companhias, da British World Airlines até a Astraeus Airlines, até sua falência em novembro passado. Mas sua carreira na aviação começou em uma das épocas mais sombrias para a indústria.
"Eu havia acabado de completar meu treinamento e já estava tudo pronto para voar. Eu estava com a banda em Nova York", ele diz. "Era um dia ensolarado, e eu estava sentado à beira da piscina do hotel. Eu estava com o manual do Boeing 757 no colo, lendo, quando uma senhora foi até a atendente da piscina e perguntou se era verdade que um avião havia se chocado com as Torres Gêmeas. Pensei que fosse um avião pequeno, privado, e voltei para minha leitura. Então, mais pessoas chegaram, e alguém disse que tinha sido um avião comercial, e eu pensei, "Caramba...”.
Três semanas após o 11 de Setembro, a British World Airlines, que tinha patrocinado o treinamento de Bruce e havia prometido um emprego a ele no final, faliu. "A equipe se partiu em dois - metade foi para a Channel Express, agora Jet2, e os outros, como eu, foram para a Astraeus", ele disse.
Nos anos seguintes na Astraeus, Dickinson voou com vários times de futebol, turistas desamparados pelo colapso da XL Airways, com a própria banda em turnês mundiais, e também com incontáveis fãs, parte de pacotes especiais de shows.
"Sou o meu próprio operador de turismo", ele sorri. "Marco os vôos e então faço propaganda dos pacotes por cerca de 500 euros, o que inclui hotel, eu levando eles até lá, uma sacola com brindes, e uma visita ao backstage". Dickinson também leva outro piloto para pilotar na volta, para que possa ficar com os fãs na viagem de volta e dar autógrafos.
Mas ele tem um ATOL? “Não, não preciso no momento, mas provavelmente vou ter que rever isso, com as novas reformas chegando”, ele comenta. Bruce continuou na companhia aérea, voando e trabalhando como diretor de marketing, até a falência, em novembro, o que ele atribui a “certas decisões da diretoria". Ele não comenta nada sobre as tais decisões, mas diz: “Era uma consequência inevitável. Não estavam permitindo que o administrador administrasse. Eu fiz uma aposta de que iria falir em novembro, e acertei quase até o dia.”
Pensamentos sobre a indústria
O roqueiro-piloto é claramente apaixonado pela indústria, e está furioso porque o governo, que ele chama de “bando de inúteis”, está ignorando as preocupações do setor.
O Air Passenger Duty**, ele diz, é “roubo puro e simples”, e deveria ser estendido para fretamento, incluindo cruzeiros, “se o imposto realmente tiver a ver com o meio-ambiente”.
(NT: Air Passenger Duty é uma taxa cobrada de passageiros que partem de um aeroporto do Reino Unido, e varia de acordo com a distância viajada. A justificativa para a implantação da taxa foi o custo que a aviação tem para o meio-ambiente).
Dickinson também está frustrado com o governo por não se preocupar com o problema da capacidade aeroportuária no Reino Unido. “A aviação é um grande propulsor de muitas coisas no Reino Unido, especialmente em termos de emprego. Precisamos desenvolver nossa capacidade regional – é ridículo que as pessoas tenham que dirigir de Cardiff até Heathrow para pegar um voo para os Estados Unidos. Elas deveriam poder voar diretamente.”
Bruce também admite que apoia, apesar de ser com relutância, o conceito do aeroporto de Boris Island***.
(NT: Desde os anos 40 há planos de se construir um aeroporto no estuário do Rio Tâmisa. A ideia é polêmica no Reino Unido, já que envolve questões ambientais e econômicas).
“No começo eu realmente não conseguia entender, mas olhando o design, é realmente inovador. Seria uma nova barreira para o Tâmisa – e o aeroporto seria auto-sustentável – capaz de gerar sua própria energia através das marés. Com o dinheiro que o governo está gastando na HS2 para chegar a Birmingham 10 minutos antes, eles poderiam fazer um grande projeto no estuário. Com Crossrail (nova rede de metrô de Londres, sob construção) lá, poderiam fazer uma ligação entre Heathrow e Boris Island, assim as pessoas poderiam ir de um a outro bem rápido”.
Ele também acredita que a expansão de Heathrow deveria ser considerada, e que o aeroporto deveria focar somente em voos de longa distância. “Já há uma boa pista em Northolt para onde os voos de curta distância poderiam ser transferidos. Heathrow precisa ser efetivamente de longa distância, mas tem que haver uma boa conexão com os voos de curta distância”, ele diz.
Esperança nas ruas
As opiniões de Dickinson não estão limitadas à aviação. Ele acredita que os agentes de viagem “de rua” deveriam estar fazendo mais para afastar os clientes da internet. “Há lugar para agentes de viagem nas ruas, mas eles precisam se reinventar e parar de parecer como agências da Assistência Social. Deveriam ver como os corretores de imóveis se reinventaram – a Foxtons, por exemplo, parece uma cafeteria, onde você pode ir e olhar casas em slideshows. Seria ótimo ver isso em agências de viagem.”
“Agentes de viagem podem ser maravilhosos”, ele acrescenta, “mas precisa ser um serviço 24 horas por dia, para que você possa pegar o telefone e falar com um ser humano, não importa onde você estiver no mundo.”
E Bruce utiliza um agente de viagem? “Claro”, ele diz. “Usamos uma empresa chamada Travel by Appointment, que faz todos os arranjos para a banda, e eu os também os utilizo para férias pessoais.”
Ele viajou por todo o mundo, tanto como piloto como nas turnês mundiais do Iron Maiden, mas Bruce admite que ainda há lugares que ele quer visitar, o Egito em particular.
“Eu voei até lá para buscar turistas desabrigados, para nunca passei um tempo lá de verdade. Adoraria fazer um cruzeiro tipo Death on the Nile”, ele diz.
Mas pode ser difícil conseguir essas férias – Dickinson agora está trabalhando com o governo Galês para criar uma empresa de manutenção de aeronaves, e vai continuar a voar com seu sócio que aluga aeronaves no sudeste da Ásia. Ele também vai passar o verão em turnê com o Iron Maiden nos Estados Unidos, e a banda planeja continuar a fazer turnês todo ano no futuro próximo – pilotados pelo próprio Dickinson a cada destino. Menos a banda e o couro, claro.
Fonte: Travel Trade Gazette
Tradução: Renata Lima e Cris McBrain