As aventuras de um Maidenmaníaco no RIR III Por Marcelo Machado em 2001
Depois de uma jornada conturbada, sendo que saí de São Paulo às 13:00h e só consegui chegar a Cidade do Rock às 21:30h, passando por alguns pequenos probleminhas e sem conseguir comprar cartões para recarregar meu celular. Descrevo aqui, aos olhos de um maidenmaníaco como foi o show no dia 19 de janeiro.
Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2001
10:30h - Acordei muito mal , depois de dormir pouco (havia chegado em casa às 6 da manhã), mas aquele era o dia, o dia do Iron Maiden no Rock in Rio! Abri o armário e dei uma olhada na minha camisa do Iron, pensei bem e decidi não colocá-la. Não queria me "perder" no meio da multidão e também a camisa que eu havia comprado no site oficial da banda não havia chegado.
Fui até o banco, buscar o "capital" necessário para a grande jornada que estava por vir, fiz uma limpeza na minha carteira, deixando só cic, rg e o ingresso do show, claro. Tentei comprar cartões para o meu celular (afinal, só tinha 17 reais de crédito) mas não achei. "Tudo bem, na rodoviária eu compro"- pensei. Almocei, dei uma ultima olhada no CD Brave New World e segui rumo a rodoviária Tietê.
No metrô, nada familiar, nenhuma camisa, nenhum maidenmaníaco. Na rodoviária, um guichê com a placa: "Próxima saída Rio - 13:00h". Olhei no relógio, eram 12:35. Comprei a passagem. O balconista perguntou se eu ia ao show, respondi que sim com um brilho nos olhos. Ele falou que talvez fosse melhor comprar a passagem de volta já naquele momento. Como não sabia que hora iria conseguir voltar, resolvi arriscar e seguir sem passagem de volta. Fui atrás de uma papelaria e do meu cartão de celular. Na papelaria comprei um bloco de anotações de bolso e duas canetas, afinal eu tinha de registrar tudo e não poderia confiar na minha fraca memória. E, mais uma vez, não consegui comprar o cartão de celular. "Bom, na rodoviária do Rio deve ter" - pensei mais uma vez.
Na plataforma de embarque, finalmente o primeiro sinal de que era mesmo dia 19. Um casal metal trajando camisetas com Eddie, o mascote que é praticamente um membro da banda. É engraçado como o assustador morto vivo Eddie fica até que bem emoldurado em um blusa baby look feminina... Não demora muito e a fila de embarque é tomada por diversas camisas do Iron Maiden, e juro a vocês, é possível ver a ansiedade em cada rosto ali presente. Todos se olham meio puxando papo, afinal já sabemos que estamos todos indo ao mesmo lugar.
No ônibus, sentei em uma poltrona do lado de um cara que iria para o RIR mas para ver Silverchair no domingo(nada contra, mas eu nem sabia que o Silverchair estava no RIR). Detalhe, como comprei passagem de ônibus não-leito, não havia ar-condicionado e o calor era infernal. Eu suava em bicas, e nem havia saído de SP.
Bom, marcha engatada, vamos ao RIO! Durante o trajeto começam as conversas paralelas:
"- Meu esse show vai ser muito bom" "-Tenho que avisar meu pai que está tudo bem" "- Faltei ao trabalho dizendo que estava com dor de ouvido, mas depois do show acho que vou ficar mesmo"
Descubro que todos no ônibus (menos eu e o cara do Silverchair) estão sem ingressos. Corajosos ou vacilões!?
15:00h - Parada em Valinhos, mais ou menos 200 KM de São Paulo, a visão do restaurante / lanchonete / posto de descanso é uma só: inúmeras camisas pretas com as mais diversas bandas de rock (outras nem tanto). E vários grupos de fãs do Maiden. Eu estava começando a me sentir em casa.
Entrei na lanchonete, tanta coisa para comprar, comer muito e dormir ou fazer uma refeição leve? Afinal o que estaria por vir não era nada fraco. Resolvi comprar um pacote de biscoito, uma garrafa de água e uma lata de guaraná. A galera mandou ver nas cervejas...
15:30 - Saída, um dos passageiros pede para ver o meu roteiro do RIR, o cara parece que não sabe muito bem quem vai tocar no sábado (e eu também não). Desse ponto em diante finalmente consegui dormir um pouco...
18:30 - já estamos no Rio de Janeiro, Av. Brasil, mas eu me sinto como se estivesse na Marginal Pinheiros em SP, um trânsito infernal, o calor mais infernal ainda e uma curiosidade: Porque os ônibus no Rio tem o número de itinerário também na janela traseira!?
É, mas eu estou no Rio mesmo, fica claro devido ao número infinito de vendedores ambulantes que correm do lado do ônibus gritando: "SXXXKOL só um real, água, coca e SXXXKOOLL!" (Incrível, mas as doze horas que passei no Rio não vi ninguém vendendo Brahma, Antarctica ou Bavaria, somente SXXXKOL.... porque será??)
Nessa hora meu companheiro de viagem (que ficou o trajeto inteiro tentando reclinar seu banco) me dá um toque que pode significar a tranqüilidade ou o inferno: No Rio, você entra no ônibus pela porta traseira!
Meu telefone toca, é um camarada de SP (Bunnyman) perguntando onde estou, se estou sozinho e outras coisas. Aproveito e peço para que ele avise ao meu Pai que está tudo certo.
Depois de 40 min aparece a primeira placa indicando onde fica a rodoviária, finalmente, pois ninguém mais aguenta ficar dentro daquele ônibus. Finalmente descemos na rodoviária, acompanho meus novos amigos até o guarda-volumes, onde eles vão deixar malas e câmeras fotográficas. Não entendi muito bem, mas vamos lá.
E não consegui comprar cartão para o meu celular.
Tentei ligar para um amigo que também veio de SP e estava na cidade do rock, mas o telefone dele dá ocupado diversas vezes e eu iria descobrir porque disso mais tarde. Fora da rodoviária é fácil localizar o ponto final do ônibus que vai para Cidade do Rock, vazio, tarifa 2,50 e com um motorista que se achava o Nigel Mansell.
O curioso aqui é que a linha não era específica para o RIR e isto fazia com que nas paradas entrassem pessoas que não estavam nem sabendo que o Rio seria palco de um show. Resultado: Por diversas vezes, a cobradora (ou trocadora, como eles dizem lá) teve que gritar para fora do ônibus: "Esse ônibus é mais caro, vai para o RIR!!!" e lá ia o pobre pai de família ficar puxando a cordinha para o motorista parar e ele poder saltar do ônibus. Certa hora, nós mesmos estávamos gritando : "Aí mermão, é doisxx e cinquenta e vai para o Rock In Rio, valeu!?"
Mas como é longe... me sinto fazendo um passeio turístico no Rio pagando apenas 2,50. Certa hora o ônibus para e entram 4 cariocas, já meio grisalhos com garrafas de whisky JB penduradas no pescoço por barbantes. Um deles senta ao meu lado e grita: "Aieee, motorisxxta, fechamosxx o onibusxx agora valeu? Acelera forte pro Rock In Rio!".
É, só que não dava para acelerar forte, pois a subida do Alto da Boa Vista (um morro) que teríamos que atravessar era mais do que íngreme, e nosso ‘motorisxxta’ teve de manter a segunda marcha.
Curiosidade: Passamos em frente ao Hard Rock Café. Como aquilo é imenso! Parece um shopping center! Lá dentro não pode ser somente uma casa de shows, deve ter até sauna mista!
Depois de exatas 2:13 minutos, às 21:30, descemos em Jacarepaguá na Cidade do Rock. Como meus amigos foram procurar seus ingressos, pensei comigo: "Agora é cada um por si!"
No percurso de mais ou menos 1kM até a entrada, via-se todo tipo de mercadorias, desde máscaras que imitavam Eddie até aqueles colares de neon(!).
Já na entrada da Cidade do Rock tentei ligar para o meu amigo e nada. Para fazer teste tentei ligar para minha casa e nada, tentei a central de atendimento ao assinante e nada. Aí eu me dei conta: Meu telefone não estava fazendo ligações por algum motivo inexplicável! Droga! E agora? Fiquei puto da vida!
Após uma revista bem malfeita (se eu quisesse entrar armado não iria ter problemas) entrei na Cidade do Rock! Muita, muita, muita gente!
Mas eu estava preocupado com o meu celular. Comecei a mudar as configurações de rede, de sistema, analógico para digital e nada! O bicho não funcionava nem a pau! Depois de uma meia hora, resolvi seguir pelo método antigo. Comprei um cartão telefônico de 60 créditos e fui até um orelhão! Liguei para o celular do meu irmão (que trabalha em uma empresa que presta assistência técnica de celulares) e perguntei porque ele não funcionava. Meu irmão devolveu a pergunta querendo saber quem estava tocando (!). Após um pequeno desentendimento, ele me orientou e eu cheguei a conclusão de que iria precisar de pelo menos mais dois cartões de 60, se quisesse me comunicar com alguém.
Liguei para meu camarada em SP (Bunnyman). Ele pergunta: "Quem está tocando? " - Eu respondo: "Ninguém". E ele: "Como não? O Sepultura está no palco agora, tá na TV". Ai eu me liguei da importância de um engenheiro de som. Eu estava atrás da tenda de tecno, e não conseguia ouvir o Sepultura lá no palco mundo. E não era porque o som estava baixo não... incrível.
Bom, a ligação caiu e eu resolvi comer algo. Preços muito salgados - gastei 5 reais em um misto frio (gelado) e um copo médio de coca-cola! Já alimentado resolvi dar uma volta pela tal "Cidade do Rock". Passei na tenda Tecno e havia uma loira não muito vestida sacolejando ao som de "O Que Sobrou do Céu" do Rappa e vários marmanjos babando.
Passo pelo camarote VIP, que ficava absurdamente longe do palco mundo, quase do lado de fora da cidade do rock e completamente vazio. Acho que quem era VIP mesmo tinha passe livre para o Backstage. Passeando pelo mini-shopping descubro um stand da Directv cheio de belas e simpáticas atendentes transmitindo o que? O Show do Sepultura! Não tive dúvidas, me servi de alguns canapés, puxei uma cadeira e fiquei vendo a banda nacional mais internacional do Brasil de camarote. Mas, como fiquei conversando com uma atendente da loja chamada Silvia, não me atentei muito ao Sepultura, pois já vi pelos menos uns três shows dos caras e também o Derek (vocal do Sepultura) não estava usando a mini-saia que a Silvia estava(!!!!!!).
Bom, acabou o Sepultura, me despedi da Silvia, comprei um cdzinho em promoção na Directv e fui continuar minha tour pela cidade do Rock. Havia vários stands, todos eles muito pequenos. Submarino, Saraiva, Lojas Renner (!) e diversos outros. Entrei no stand das Lojas Americanas, para talvez fazer mais uma aquisição sonora. Como era um ovo, o segurança controlava o numero de pessoas para que a lotação lá dentro não passasse de 25 pessoas. Aguardei, entrei e adquiri mais um Cd de uma banda nacional odiada pelos críticos que faria show no dia seguinte.
A esta altura, Rob Haldford já dava seus gritos impecáveis no palco mundo. Nunca fui fã de Judas Priest, mas me desloquei até a lateral do palco para poder ver melhor. E realmente era uma estrutura gigantesca com uns 70 metros de fundo mais uns 100 de largura. Os telões eram médios, mas forneciam uma visão satisfatória para quem estava mais longe. Dezenas de técnicos e seguranças posicionados em um fosso entre o palco e a galera, que se divertia na lama causada pela água jogada pelos caminhões pipas (ah, então foi isso que irritou Carlinhos Brown).
Rob Haldford é um profissional, entrou, cantou e saiu. Não falou nada com o público e no máximo mandou alguns gritos para que a galera o seguisse. Disse algo e emendou com a única coisa de Judas Priest que eu conhecia - Breaking The Law, que Haldford deixou que a galera (poucos) cantasse. Final do show, quebra-quebra de instrumentos e finalmente depois de alguns minutos começaria o tão esperado show do Iron Maiden!
Decidi voltar para a borda do gramado. Pois minha experiência de 58 shows diferentes me diz o que esperar da "área do gargarejo" em um show de Heavy Metal.
00:50h - Estou sentado em frente ao camarote VIP, com fome, sono e frio. Mas ansioso!
01:00h - Como o show está previsto para a 1:00h, levanto e caminho alguns passos para mais perto da galera. Detalhe que, enquanto o palco do Iron é montado, sobe um pano preto encobrindo parte da visão sobre o mesmo... será alguma surpresa!? Durante a afinação dos instrumentos, uma voz diz: "Next... ok! Next.... ok!" - um maidenmaníaco do meu lado jura que é o Bruce (!)
1:08h - As luzes no palco se apagam, milhares de pessoas começam a gritar e correr em direção ao palco. Tenho vontade de fazer o mesmo, mas confesso: Estou paralisado! Já vi o Iron Maiden no Philips Monsters Of Rock (96, acho) mas era Blaze Bayley que cantava (!). Só que agora temos Mr. Air Raid Siren e Adrian Smith de volta! Agora sim é o IRON MAIDEN!
Uma música estilo Carmina Burana invade as caixas de som. Vocês que lêem isto agora não podem imaginar como eu me sentia. Estava em transe. Eis que a música é cortada subitamente, um refletor mira o lado esquerdo do palco e surge ele: Mr. Adrian Smith tocando sozinho a introdução de The Wicker Man. Nicko ataca na bateria e em poucos segundos Bruce entra correndo (algo que não pararia de fazer durante todo o show!), Steve, Dave e Janick... estão todos lá, três guitarras, um peso fora do normal. Um pano imenso no fundo com a imagem da capa de Brave New World. A Donzela está no palco!
Sem tempo para respirar, Ghost Of The Navigator é executada muito bem ao vivo com um solo monstruoso de Janick Gers, simplesmente perfeito. Os vocais de Bruce são de tirar o fôlego. E ele excita a galera : "Eu quero ouvir a voz de vocês!"
Bruce diz boa noite ao público e ataca de Brave New World, faixa título do último trabalho da banda que é um ótimo disco, que marca a volta de Bruce e Adrian mostrando a banda reunida outra vez para alegria dos headbangers.
O primeiro e tão esperado clássico. Bruce pergunta: "Algo velho? Algo do meu período Jurássico!". E o baixo de Harris e a bateria de Nicko desfilam juntos em Wrathchild. Um ponto alto para muitos que ali não conheciam muito bem Brave New World. Bruce deu um grito aqui que eu achei que ele iria arrebentar as cordas vocais, sensacional. Alguém aí falou em playback? Quem sabe faz ao vivo e nem precisa quebrar guitarra!
Bruce abraçado a Janick que executa a introdução de 2 Minutes to Midnight. Outro clássico que levanta a galera. A esta hora já estou parecendo um louco, sem camisa (a 10 min atrás eu estava com frio) pulando e tocando guitarras imaginárias, baterias no ar, cantando e gritando como uma criança. Bruce solta o seu primeiro "Scream for me Rio!!!" e sobe na câmera que fica no trilho. Mais tarde eu veria no vídeo, que ele filmou o próprio rosto e apontou para galera como quem diz... Vejam! Vejam isto!
Nesta hora eu me dei conta que havia um helicóptero parado sobre a cidade do rock, provavelmente filmando tomadas para o DVD. Após a magnífica execução de 2 Minutes to Midnight, Bruce agradece a todos que os auxiliam, que os suportam e que mantém o rock, diz algo sobre Britney Fuck Spears e dedica a próxima música a todos que agradeceu: Blood Brothers. Uma música melodiosa que emociona. Aqui Dave Murray mostrou por que veio, uma atuação impecável! Bruce ainda comanda a galera em uma coreografia de palmas, me lembrando o Queen no Rock in Rio I. Adrian Smith também merece destaque. Acho que ele deve ter pensado : "Pô, eu nunca deveria ter saído daqui".
As luzes se apagam novamente, outra introdução clássica. Sign of the Cross é iniciada. Desta vez é Nicko que rege a platéia. Nesta hora Bruce some do palco, para aparecer junto a uma cruz (nos shows da turne Brave New World, Bruce é preso a uma cruz que se levanta no fundo do palco), mas algo dá errado e Bruce volta ao palco visivelmente irritado. Parece que houve algo com a cruz. De qualquer forma, Bruce profissional como sempre não poupa esforços para cantá-la da melhor forma possível, já que o efeito da cruz não vai aparecer no DVD. São 11 minutos de música e uma parte que a galera (eu inclusive) canta aquele refrão maravilhoso: “The sign of the cross, the name of the rose...”
Isto me faz lembrar um comentário que li em alguma reportagem sobre o Iron, onde diziam que Blaze Bayley era um bom cantor, mas para cantar no Iron, ser bom não basta... acho que vocês sabem o que eu quero dizer...
Dito isso, outra do disco novo. The Mercenary que agitou muito a galera. Mas repito mais uma vez, nem todos ali conheciam o Brave New World, uma pena, pois é um álbum muito bem feito.
Bruce diz que a próxima música fala sobre guerra e outras coisas que meu parco inglês não consegue identificar. Então a maravilhosa The Trooper é iniciada. Nesta hora percebi que o pano de fundo havia sido trocado para aquele do single The Trooper (Eddie correndo com a bandeira da Inglaterra). No palco há também duas bandeiras da Inglaterra sobre a bateria de Nicko. Bruce agita as bandeiras e canta a plenos pulmões. (Incrível como Bruce corre, salta de um lado para o outro e continua gritando como se o show tivesse acabado de começar!). Se houvessem arquibancadas na cidade do Rock , com certeza elas desabariam aqui de tanto que a galera agitou.
Aí, então Mr. Air Raid Siren agradece, diz que o público do Brasil é demais e que por isso está sendo gravado um DVD para que o mundo inteiro veja o Rock In Rio, veja o Brasil, a América do Sul e seus fãs.
Janick se posiciona sobre um violão acústico montado sobre um cavalete e é Dream Of Mirrors que se inicia. Uma música relativamente grande (cerca de 10 minutos) que literalmente emociona a platéia. Sem comentários...
The Clansman, gravada originalmente por Blaze. A platéia se mantém meio quieta, não sei se devido ao cansaço ou a lembrança do ex-vocal do Maiden. Aqui fica claro que Adrian Smith é o mais sério em palco. Enquanto Dave e Janick se divertem, ele se mantém concentrado.
The Evil That Men Do, mais clássicos, essa música tem um solo de base simplesmente perfeito e contagiante. Sem contar a "metralhadora" de Harris. E aqui um ponto que me arrepiou a espinha: Eddie (o Ed Hunter) entra no palco e começa a brigar com Gers, que se diverte dando guitarradas e fugindo do mascote da donzela. Via-se que a galera estava paralisada!
E o Hino, começa com Bruce dizendo: “Lights? And Black? Or just Fear Of The Dark?” Sim, Fear Of The Dark é um verdadeiro hino. Já é parte do show a participação em massa da platéia nos refrões inicias, intermediários e finais dessa música. A esta hora eu já estava destruído, e acompanhava o show com os olhos esbugalhados como os de uma criança na frente da vitrine de doces. Estava anestesiado, embalsamado, sem me mexer e sem piscar os olhos. Hipnotizado.
E vem aquilo que todos conhecem: “Scream for me Brazil! Scream for me Rock in Rio! The Iron Maiden!” Dave na introdução, seguido de Adrian e Janick. É incrível como Iron Maiden ganhou com o acréscimo de mais uma guitarra. Eddie do single The Wicker Man aparece ao fundo tendo fogo ao seu lado e as mulheres de branco dentro dele de onde Bruce canta de forma esplêndida. Na virada da música, a cabeça de Eddie se abre e o rosto é igual ao do Ed Hunter, com os olhos emitindo um facho de luz vermelha e a cabeça se movendo de um lado para o outro.
"Thank you, and good night! From Iron Maiden, from Eddie and from the boys..." Bruce vai para dentro de Eddie com as mulheres, Janick e Dave esmerilham suas guitarras nos amplificadores, Nicko, Harris e agora Adrian seguram a batida final! Nicko, que quase não apareceu, faz a festa jogando peles de bateria, baquetas, munhequeiras, correndo de um lado para outro do palco e some no backstage. Ninguém se move, afinal todos sabemos que ainda falta The Number, Hallowed, Sanctuary e talvez alguma surpresa (Jimmy Page!?)
O intervalo é rápido (menos de 5 minutos) e então aquela voz tenebrosa surge nos amplificadores. O pano de fundo não deixa dúvidas, a capa de The Number Of The Beast, o disco de maior sucesso da banda. Mais uma vez a galera vai ao delírio. Eu já estou catatônico. Pulando e tocando bateria no ar!
Sem mais interrupções, Hallowed Be Thy Name é executada. Se alguém aqui tem dúvida da força de Bruce, basta ver como ele canta esta música que já é a 16ª do show. Dave mais uma vez mostra que sabe muito bem o que faz com sua guitarra. Vendo parece até fácil. Bruce comanda a galera, como já de praxe na parte final da música, e que solos finais, que fôlego...
Sanctuary indica que o show está nos minutos finais. Bruce não apresentou a banda (mas também, precisa?) e brinca excitando a galera do lado esquerdo, depois o direito, "Left, Rigth, Left, Right...", continuando a cantar do nada e a banda acompanhando ele como um relógio. Demais!
Bruce então agradece e diz que quer tirar uma foto da banda com a galera ao fundo. Pede para que todos gritem Rock 'n' Roll quando ele contar até três! A galera responde. Provavelmente esta foto vai para a capa/encarte do disco! Aí Bruce diz que eles vão fazer algo especial para nós, tocar algo que não tocam há algum tempo. Algo que representa muito para ele e para banda. E escuta-se as batidas de Run To The Hills. Perfeita, magnífica, com os backing vocals de Harris, a galera participando, histórico!
03:15h - Acaba o show, Nicko se diverte um pouco mais e eles somem no backstage. Faltaram clássicos? Inúmeros! O show poderia ter algo de realmente diferente? Poderia! Que tal 4 horas de show? Seria ótimo. Mas creio que assim como eu, aquelas 140, 150, 200 mil pessoas tinham visto que Iron Maiden é realmente a maior banda de Heavy Metal! Não há como comparar! Uma performance de palco de fazer a inveja. E olha que os caras tem só 24 anos de carreira! Iron Maiden é Iron Maiden e isto basta!
Na saída do show, um dos portões laterais se abrem e duas vans cantam pneus em meio á multidão. Devido ao trânsito, elas dão uma pequena parada. Olho para uma delas e reconheço Nicko McBrain se secando com um toalha. Na outra, Harris olha pela janela, parecendo assustado. Não sei se ele está me vendo, mas faço um sinal de quem está batendo palmas, Harris dá um sorriso agradece abaixando a cabeça e faz um sinal de positivo com o polegar...
Estou em frangalhos, o ônibus demora no trajeto, metaleiros dormem no chão da rodoviária, eu só consigo passagem para as 7:20h da manhã. Mas valeu a pena, faria tudo de novo...
Marcelo Machado tem 23 anos, foi taxado de louco, mas está feliz. Atualmente passa por uma overdose de Iron Maiden escutando os seus velhos vinis e ainda não conseguiu comprar cartão para o seu celular. http://mais-um-dia.blogspot.com